Epilepsia mioclônica juvenil: o que é, sintomas e tratamento

A epilepsia mioclônica juvenil (EMJ) pode surgir a partir dos 10 anos de idade e costuma ter uma boa resposta ao tratamento farmacológico

A epilepsia mioclônica juvenil (EMJ) é um dos tipos de epilepsia que surgem durante a puberdade, com a média de diagnósticos ocorrendo aos 14 anos. Felizmente, a maioria das pessoas com epilepsia mioclônica juvenil apresenta uma resposta positiva ao tratamento e mantém uma boa qualidade de vida.

Neste artigo, explicamos quais são as características, os sintomas e como é feito o diagnóstico e o tratamento da epilepsia mioclônica juvenil.

O que é a epilepsia mioclônica juvenil

Segundo a Liga Internacional Contra a Epilepsia, a epilepsia mioclônica juvenil tem início na adolescência, com maior predisposição para o surgimento das crises durante o estirão puberal.

Ela é considerada uma epilepsia poligênica, ou seja, possui várias causas possíveis e uma expressão genética também variada. Porém, ela é considerada uma epilepsia geneticamente provável, o que significa que tem maior probabilidade de ocorrer entre pessoas que possuem casos na família.

Sintomas da epilepsia mioclônica juvenil 

A epilepsia mioclônica juvenil se apresenta com mais frequência na forma de crises mioclônicas, ou seja, com abalos musculares súbitos, que podem ser arrítmicos, irregulares e isolados. Essas crises mioclônicas acontecem principalmente ao despertar. 

A mioclonia é caracterizada por abalos involuntários nos membros, especialmente nos braços e nas mãos. Por isso, a família costuma relatar que esse adolescente derruba objetos no café da manhã e parece ser mais “desastrado” ao despertar.

Além disso, a epilepsia mioclônica juvenil também pode apresentar crises tônico-clônica generalizadas, ou seja, crises convulsivas. Na EMJ elas ocorrem, principalmente, quando há a presença de um gatilho.

Gatilhos são fatores ou situações que aumentam as chances de piora de crises mioclônicas, e de ocorrência de crises tônico-clônicas generalizadas. Na epilepsia mioclônica juvenil, os gatilhos mais frequentemente associados são, em ordem de importância: 

  1. Privação de sono;
  2. Estresse emocional;
  3. Uso de bebidas alcoólicas;
  4. Febre;
  5. Fome;
  6. Estímulos luminosos;
  7. Fadiga.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é feito essencialmente de maneira clínica, a partir de relatos da família e do próprio adolescente em relação aos abalos e às crises. Por isso, costuma-se perguntar como é o adolescente ao despertar e em que situações ocorreram as possíveis crises convulsivas.

A partir disso, é solicitado um exame de eletroencefalograma, que pode apresentar um padrão específico desse tipo de epilepsia. Além disso, também pode ser solicitada uma ressonância magnética do crânio para fazer o diagnóstico diferencial e eliminar outras patologias que possam estar envolvidas com as crises.

Qual é o tratamento? Tem cura?

A maioria das pessoas diagnosticadas com epilepsia mioclônica juvenil conseguirá controlar totalmente as crises com as medicações. O tratamento deve ser mantido por tempo prolongado. Felizmente, o tratamento farmacológico para a EMJ possui boa taxa de resposta. Sendo assim, a grande maioria dos pacientes conseguirá manter as crises sob controle com o uso correto da medicação.

Para algumas pessoas, o uso da medicação deve ser mantido durante toda a vida, pois a predisposição a crises se mantém. Nesses casos, não vale o risco da interrupção do tratamento. Uma vez diagnosticada a epilepsia mioclônica juvenil, é importante que se inicie um processo de esclarecimento do jovem a respeito da EMJ, de forma que ele conheça essa situação clínica e compreenda a importância do uso correto do medicamento. 

Assim como pessoas com pressão alta ou diabetes, ele deverá fazer uso contínuo do medicamento para que não haja nenhuma intercorrência e para que ele mantenha a qualidade de vida.

Também é importante que o adolescente compreenda quais são os gatilhos para desencadear as crises, como a fotossensibilidade e, principalmente, a privação de sono, algo que costuma afetar muitos adolescentes. 

Além da medicação, é importante que haja um equilíbrio entre o uso adequado dos remédios e a adoção de hábitos saudáveis, para que ele chegue na fase adulta com bem-estar e tranquilidade para viver plenamente seus sonhos e ambições.

Epilepsia mioclônica juvenil e gravidez

Uma das questões que costumam ser levantadas entre as mulheres que recebem o diagnóstico é: as medicações podem interferir em uma possível gravidez? 

Essa preocupação está relacionada ao uso do valproato de sódio, o medicamento que costuma ser mais indicado para esse tipo de epilepsia. Apesar de apresentar uma boa resposta no controle das crises, ele tem um grande risco de levar a malformações fetais físicas e neurológicas, o que chamamos de alto índice de teratogenicidade. 

Por isso, a Liga Internacional Contra a Epilepsia tem recomendado aos médicos evitarem o uso do valproato de sódio em garotas com o diagnóstico de epilepsia mioclônica juvenil, tendo em vista a teratogenicidade do uso crônico e prolongado da medicação e a possibilidade de uma gravidez ao longo do tratamento.

Fonte: Dra. Daniela Bezerra

Dra. Daniela Bezerra
RQE nº 75867 - CRM 109823
• Neurologista infantil

“O olhar mais aprofundado e diferenciado para essa patologia é muito importante para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e cuidadores. Não adianta só trabalhar a crise, é preciso trabalhar um contexto. São abordagens diversas, de diagnóstico, escuta, tratamento. A informação faz parte do empoderamento e de suas famílias.” Graduada em Medicina pela Universidade Severino Sombra (2002). Possui formação em Pediatria e Neurologia Infantil pela Faculdade de Medicina do ABC, onde atualmente é Médica afiliada do Departamento de Neurociências e Coordenadora do Ambulatório de Epilepsia Infantil, especializado em epilepsia de difícil controle com abordagem em dieta Cetogênica, avaliação cirúrgica e neuromodulação.

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